Gestão de Riscos no Poder Executivo
Mário A. W. de Souza, MBS
Especialista em Gestão de Riscos pela Faculdade de Engenharia de São Paulo, Mestrando em Habitação (Linha de pesquisa em Riscos) pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas – IPT. É Gerente de Consutoria da Brasiliano INTERISK
Como normalmente ocorre em períodos eleitorais, estamos passando por uma intensa discussão política. Os diversos grupos defendem seu posicionamento e atacam seus adversários, porém, de forma singular esta eleição se destaca pela polarização entre a “virtual” extrema esquerda e direita.
Coloco a palavra “virtual” entre parênteses pois vejo como eleitoreira a indicação de que há uma vertente que busca o comunismo e outra que busca algo próximo ao regime militar, esse tipo de ação, na minha opinião, cai por terra na atualidade pela velocidade das informações, a população se revoltaria e, pressionado, poderia existir outro impeachment, como ocorreu com a Dilma Rousseff.
Sem entrar no mérito da politicagem, um dos parâmetros para se estabelecer o Plano Político deveria ser uma análise de risco para amparar de forma racional as decisões, levando-se em consideração os interesses econômicos e sociais, existindo perfeito equilíbrio.
Aprofundando esse raciocínio, é de extrema importância que o poder executivo não tenha viés ou projetos próprios. Deve ser imparcial e governar para a população, garantindo suas necessidades essenciais e legais. O objetivo deste artigo é, através de uma correlação com a ISO 31000:2018, demonstrar o perfeito encaixe entre gestão de riscos e plano de governo.
O framework da ISO 31000:2018 estabelece as fases abaixo:
1. Comunicação e Consulta;
2. Escopo, contexto e critérios;
3. Processo de Avaliação de Riscos;
3.1. Identificação de riscos;
3.2. Análise de riscos;
3.3. Avaliação de riscos;
4. Tratamento de riscos;
5. Registro e relato;
6. Monitoramento e Análise crítica.
Vou expor sumariamente as fases abaixo aplicada ao governo:
1. Comunicação e Consulta
Durante todo o governo deve-se estabelecer canal de comunicação com todos os stakeholders (população, empresas, legislativo, judiciário, ministros, especialistas e outros). Este canal deve ser neutro e técnico, recebendo inputs que servem de insumo para os riscos e oportunidades e direcionam as ações.
2. Escopo, contexto e critérios
Entender o contexto do país é essencial. Sem conhecê-lo, sabendo nossas virtudes e limitações e posicionamento perante os demais países não há uma visão clara dos riscos e oportunidades; a percepção fica prejudicada e as decisões serão incorretas ou tendenciosas.
Entender as incertezas críticas que representam ameaças e oportunidades é essencial. São delas que saem os riscos e oportunidades.
3. Processo de Avaliação de Riscos
O processo aplicado deve ser estratégico, abordando de forma holística todas as questões que envolvem o governo, sendo elas: políticas, econômicas, sociais, ambientais, relações internacionais e diversos outros campos macros.
Além dos riscos, deve-se trabalhar com as oportunidades, ampliando eventos que possam trazer benefícios para o país como um todo.
3.1. Identificação de riscos
Os riscos identificados devem possuir alta criticidade, desta forma, deve possuir capacidade de impactar de forma significativa o país. Da mesma forma, deve-se identificar oportunidades que possam trazer benefícios significativos. São esses riscos e oportunidades que nortearão as ações, o plano de governo.
3.2. Análise de riscos
A análise de risco deve ser realizada através de critérios pré-definidos, entendendo o impacto e a probabilidade do risco e oportunidade, subsidiando a avaliação de riscos.
3.3. Avaliação de riscos
A avaliação deve ser pautada na criticidade dos riscos e oportunidade. Através de uma matriz ou qualquer outra ferramenta de avaliação a equipe do governo deve tomar a decisão de quais riscos irão assumir, quais irão tratar, bem como, quais oportunidades irão aproveitar.
Como exemplo, um risco que com certeza deve estar em pauta é o da “Elevação da exclusão das minorias”, como índios e quilombolas. Mais do que entender a probabilidade e o impacto do risco, deve-se saber e entender as causas (fatores de risco).
4. Tratamento de riscos
Após avaliar os riscos, envolvendo todos os stakeholders, deve-se tomar as ações devidas, como tratar. Conforme exposto anteriormente, o tratamento deve ser realizado nas causas motrizes, otimizando a utilização dos recursos públicos.
As oportunidades podem ser angariadas através de ações que elevem a sua probabilidade e o seu impacto positivo.
5. Registro e relato
Todas as decisões devem ser registradas, amparando tecnicamente as ações. Como em qualquer empresa, não é possível solucionar todos os problemas e nem todos os problemas são sanados a curto ou médio prazo.
O registro fidedigno das ações e disponível a todos os stakeholders deve ser peça de transparência e justificativa, evitando acusações infundadas futuras. Não devemos esperar que todos os riscos sejam solucionados, porém, esperamos que os riscos sejam tratados conforme criticidade e da forma correta, atacando a causa raiz. A mesma lógica aplica-se as oportunidades.
6. Monitoramento e Análise Crítica.
Ao longo de todo o governo deve existir ferramentas de monitoramento, tanto do ambiente interno como do externo, retroalimentando o processo e possibilitando o ajuste das ações para que estejam sempre em consonância com a criticidade dos riscos. A análise crítica deve ocorrer periodicamente (semestralmente por exemplo), momento oportuno para avaliar as ações e seus resultados.
Conclusão
O processo defendido não difere em nada de uma organização privada. O que o diferencia é sua amplitude, pois deve ser muito mais macro. O maior dificultador está na análise técnica, que deve ser livre de vieses.
O poder executivo deve pautar-se em critérios técnicos para tomada de decisão, assim, usando a Gestão de Riscos todos os interesses serão observados e as investidas ocorrerão onde há maior criticidade, pois, independente do posicionamento político (esquerda ou direita), o desequilíbrio afeta a todos (classes baixa, média e alta).